Néstor Kirchner, a película
“Néstor Kirchner, a película”, biografia cinematográfica do presidente Kirchner (2003-2007), não é um bom relato. O filme, financiado pelo Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (Incaa) e com estreia em 120 salas do circuito comercial na Argentina, não aprofunda questões fundamentais do governo de Néstor Kirchner. A produção é uma obra militante e festiva, mas sem o devido aprofundamento político.
A diretora Paula de Luque abusa de fragmentos de gravações caseiras e de testemunhos de familiares, a exemplo do depoimento do filho Máximo Kirchner, que conta como seu pai desfrutava tombando seus soldadinhos de brinquedo durante sua infância. Ou, ainda, que gostava de fazer chifrinhos em quem estava ao seu lado na foto ou filmagem.
Apesar da reprodução de imagens de Kirchner com os presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Lula (Brasil), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), a relação entre os países não é documentada por depoimentos de líderes latino-americanos. A viúva e presidente Cristina Kirchner, também restrita às imagens de arquivo, citada em testemunhos familiares e devidamente enaltecida pela aprovação da Ley de Medios, tampouco aparece no filme.
Fica de fora, por exemplo, uma anedota contada recentemente em Buenos Aires, no encerramento do Encontro de Economia Política, pelo vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, sobre a decisão de nacionalizar os recursos no país boliviano. Em um ato em Santa Cruz, em 2007, antes de iniciar a cerminônia, Néstor Kirchner perguntou a Evo Morales qual a principal luta no país. O presidente da Bolívia disse que as petrolíferas não querem investir pelos altos impostos. Néstor não respondeu de imediato, mas em seu discurso anunciou que a Argentina daria todo o dinheiro que a Bolívia necessitasse para a produção de petróleo e gás que as empresas se negavam a investir. Logo depois, contou García Linera, as empresas fizeram filas para investir em energia.
Outro aspecto central pouco explorado no documentário é a política de direitos humanos do governo Néstor Kirchner, caracterizada pelo fim das leis de Ponto Final e Obediência Devida, que impediam o julgamento político de torturadores e autores de delitos de lesa humanidade durante a última ditadura militar argentina (1976-1983). É retratado na película apenas o momento em que Néstor ordena ao comandante-chefe do exército que retire os quadros de todos os militares que governaram o país durante a ditadura. Entre eles dois integrantes da primeira Junta Militar da ditadura, o general Jorge Rafael Videla e o almirante Emilio Eduardo Massera; agora sob os aplausos de espectadores.
O filme também apresenta problemas básicos de direção. Não identifica algumas pessoas que prestaram depoimento e nem os lugares e as datas das imagens de arquivo. Outras gravações antigas, como as que reproduzem os discursos de Kirchner, têm falhas no áudio e estão sem legendas. A música, capaz de causar um sentimento nostálgico até em brasileiro, é de Gustavo Santaolalla, parceiro do brasileiro Walter Salles em Diários de Motocicleta e On the Road.
Assista ao trailer.
A diretora Paula de Luque abusa de fragmentos de gravações caseiras e de testemunhos de familiares, a exemplo do depoimento do filho Máximo Kirchner, que conta como seu pai desfrutava tombando seus soldadinhos de brinquedo durante sua infância. Ou, ainda, que gostava de fazer chifrinhos em quem estava ao seu lado na foto ou filmagem.
Apesar da reprodução de imagens de Kirchner com os presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Lula (Brasil), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), a relação entre os países não é documentada por depoimentos de líderes latino-americanos. A viúva e presidente Cristina Kirchner, também restrita às imagens de arquivo, citada em testemunhos familiares e devidamente enaltecida pela aprovação da Ley de Medios, tampouco aparece no filme.
Fica de fora, por exemplo, uma anedota contada recentemente em Buenos Aires, no encerramento do Encontro de Economia Política, pelo vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, sobre a decisão de nacionalizar os recursos no país boliviano. Em um ato em Santa Cruz, em 2007, antes de iniciar a cerminônia, Néstor Kirchner perguntou a Evo Morales qual a principal luta no país. O presidente da Bolívia disse que as petrolíferas não querem investir pelos altos impostos. Néstor não respondeu de imediato, mas em seu discurso anunciou que a Argentina daria todo o dinheiro que a Bolívia necessitasse para a produção de petróleo e gás que as empresas se negavam a investir. Logo depois, contou García Linera, as empresas fizeram filas para investir em energia.
Outro aspecto central pouco explorado no documentário é a política de direitos humanos do governo Néstor Kirchner, caracterizada pelo fim das leis de Ponto Final e Obediência Devida, que impediam o julgamento político de torturadores e autores de delitos de lesa humanidade durante a última ditadura militar argentina (1976-1983). É retratado na película apenas o momento em que Néstor ordena ao comandante-chefe do exército que retire os quadros de todos os militares que governaram o país durante a ditadura. Entre eles dois integrantes da primeira Junta Militar da ditadura, o general Jorge Rafael Videla e o almirante Emilio Eduardo Massera; agora sob os aplausos de espectadores.
O filme também apresenta problemas básicos de direção. Não identifica algumas pessoas que prestaram depoimento e nem os lugares e as datas das imagens de arquivo. Outras gravações antigas, como as que reproduzem os discursos de Kirchner, têm falhas no áudio e estão sem legendas. A música, capaz de causar um sentimento nostálgico até em brasileiro, é de Gustavo Santaolalla, parceiro do brasileiro Walter Salles em Diários de Motocicleta e On the Road.
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