um pouco de Sylvia Plath
A faceta megalomaníaca e
obcecada de Sylvia Plath (1932 – 1963) sempre despertou minha atenção. Uma das
principais vozes da poesia norte-americana na década de 1960, a escritora teve
muitos poemas rejeitados, ganhou prêmios literários, teve seus textos
publicados na revista “New Yorker”, e seu único romance, “A redoma de vidro”,
foi adotado em escolas de todo o mundo.
Na primeira vez que beijou o poeta e
futuro marido Ted Hughes, em 1955, numa festa em Cambridge, Plath deu-lhe uma
mordida tão forte no pescoço que escorreu um filete de sangue. Na última vez em
que Hughes teve notícias do “animal voraz” chamado Sylvia Plath, já separados,
ela tinha enfiado a cabeça no forno a gás e provocado a própria morte, aos 30
anos.
As crises de depressão a
acompanhavam desde a adolescência e Plath também sofria com a infidelidade do marido.
Depois da sua morte, Hughes se apropriou da obra, suprimiu poemas com
referências negativas ao casamento, censurou depoimentos e impediu que a
história de Plath fosse contada a partir de seus diários, cartas e textos.
Para o jornalista Carl Rollyson,
autor de “Ísis americana: a vida e a arte de Sylvia Plath”, que teve acesso a
cartas até então inéditas, Plath era dona de um “acachapante desejo de ser o
foco da atenção”, e um “farol para a consciência moderna de uma geração”. O
autor mostra como, ainda adolescente, ela inventava versões para as histórias
familiares, sempre carregando no verniz para que parecessem mais interessantes.
Ísis, que dá título à obra, segundo o
biógrafo é uma referência à mitologia egípcia, onde Ísis é a deusa da
maternidade, simplicidade e magia; ele usa a referência para metaforizar o
desejo de Plath de ser mãe, esposa, mantendo a luz própria intacta.
ESPELHO
Sou prata e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou
desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro
cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em
frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas
vacila.
Faces e escuridão insistem em nos
separar.
Agora sou um lago. Uma mulher se
inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que
realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes,
o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito
fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de
mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a
escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma
velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
OS DIÁRIOS DE SYLVIA PLATH
Como a vida é um movimento rápido, um fluir continuo, mutante, como estamos sempre a nos despedir, indo a lugares, vendo pessoas, fazendo coisas. Que nada, a busca do tempo passado é mais difícil do que você pensa, e o tempo presente acaba devorado por essas buscas melancólicas. O filme de seus dias e noites está enrolado dentro de você, bem apertado, para nunca mais ser passado – e os flashbacks ocasionais são vagos, desfocados, irreais, como se os visse através da neve que cai. Agora você começa a ficar com medo. Contudo, mesmo nesta era de especialização, de variedade e complexidade infinita e de uma miríade de escolhas, o que você pega para si no saco de surpresas? Gatos tem nove vidas, diz o ditado. Você tem uma.
Comentários
Postar um comentário