um pouco de Sylvia Plath
A faceta megalomaníaca e
obcecada de Sylvia Plath (1932 – 1963) sempre despertou minha atenção. Uma das
principais vozes da poesia norte-americana na década de 1960, a escritora teve
muitos poemas rejeitados, ganhou prêmios literários, teve seus textos
publicados na revista “New Yorker”, e seu único romance, “A redoma de vidro”,
foi adotado em escolas de todo o mundo.

As crises de depressão a
acompanhavam desde a adolescência e Plath também sofria com a infidelidade do marido.
Depois da sua morte, Hughes se apropriou da obra, suprimiu poemas com
referências negativas ao casamento, censurou depoimentos e impediu que a
história de Plath fosse contada a partir de seus diários, cartas e textos.
Para o jornalista Carl Rollyson,
autor de “Ísis americana: a vida e a arte de Sylvia Plath”, que teve acesso a
cartas até então inéditas, Plath era dona de um “acachapante desejo de ser o
foco da atenção”, e um “farol para a consciência moderna de uma geração”. O
autor mostra como, ainda adolescente, ela inventava versões para as histórias
familiares, sempre carregando no verniz para que parecessem mais interessantes.
Ísis, que dá título à obra, segundo o
biógrafo é uma referência à mitologia egípcia, onde Ísis é a deusa da
maternidade, simplicidade e magia; ele usa a referência para metaforizar o
desejo de Plath de ser mãe, esposa, mantendo a luz própria intacta.
ESPELHO
Sou prata e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou
desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro
cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em
frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas
vacila.
Faces e escuridão insistem em nos
separar.
Agora sou um lago. Uma mulher se
inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que
realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes,
o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito
fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de
mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a
escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma
velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
OS DIÁRIOS DE SYLVIA PLATH
Como a vida é um movimento rápido, um fluir continuo, mutante, como estamos sempre a nos despedir, indo a lugares, vendo pessoas, fazendo coisas. Que nada, a busca do tempo passado é mais difícil do que você pensa, e o tempo presente acaba devorado por essas buscas melancólicas. O filme de seus dias e noites está enrolado dentro de você, bem apertado, para nunca mais ser passado – e os flashbacks ocasionais são vagos, desfocados, irreais, como se os visse através da neve que cai. Agora você começa a ficar com medo. Contudo, mesmo nesta era de especialização, de variedade e complexidade infinita e de uma miríade de escolhas, o que você pega para si no saco de surpresas? Gatos tem nove vidas, diz o ditado. Você tem uma.
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