na cabeceira...
Há tempos
não mergulhava num autor. Aí outro dia, numa dessas andanças entre sebos e
livrarias, comprei Todos os Contos de
Clarice Lispector. Ainda que prefira as vozes femininas e que essas fiquem encantadas
num certo canto da estante, Clarice nunca passou por aqui. Talvez uma renúncia juvenil
que agora rima com falta.
O fato é que, há pouco mais de uma semana, Clarice
tem me acompanhado e deliciado minhas madrugadas e manhãs. Hoje acordei antes
do nascer do dia, sentei com ela na poltrona que dá vista para uma árvore
perto da janela, e devorei suas primeiras
histórias. Aí segue um fragmento do conto Obsessão que, por alguma razão, tem um pouco de mim.
[(...) aos dezenove anos
encontrei Jaime. Casamo-nos e alugamos um apartamento bonito, bem mobiliado.
Vivemos seis anos juntos, sem filhos. E eu era feliz. Se alguém me perguntava,
eu afirmava, acrescentava não sem um pouco de perplexidade: “E por que não? ” Jaime
foi sempre bom para mim. E, seu temperamento pouco ardente, eu o considerava de
certo modo um prolongamento de meus pais, de minha casa anterior, onde
habituara-me aos privilégios de filha única (...)].
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