déjà-vu portenho


Tengo miedo del encuentro
con el pasado que vuelve a enfrentarse con mi vida.
Volver, de Gardel e Le Pera


Os cafés de Buenos Aires são perfeitos para terminar uma tese. A xícara fica vazia por horas e ninguém te obriga a sair. Basta entrar, pedir um cortado e uma medialuna e passar horas a fio lendo, matando tempo, ajustando o texto. No almoço, uma taça de tinto para acompanhar. É também por isso que volto, para terminar a tese.

Não sei como vou encontrar Buenos Aires. Quiçá desalmada, macrista, fria. Buenos Aires foi, para mim, uma partida, uma mescla de milongas e tangos e um duro recomeço. Perdi um amor, não sei se lá ou se aqui, mas foi um sabático de ganhos e perdas memoráveis. É também por isso que volto, para encontrar outra melodia em clave de fá.

Espero não me perder ainda mais. Não me perder nas livrarias, nos passeios vacilantes e nem ao largo de nenhum detalhe. Não quero me deixar levar pela umidade portenha e nem passar horas fitando o nada. Não sei como vou sentir Buenos Aires. É também para isso que volto, para me reconhecer.

Nunca morei sozinha na casa de não sei quem. Um quarto com vista para um pátio desenhado em mosaicos em uma casa com pé direito alto em Almagro. Volto também por isso, para traçar meu rumo, com meus próprios pés e sem amarras ou garantias.

Eu sei, às vezes Buenos Aires é ensurdecedora. As panelas gritam, os protestos param gentes, serviços e avenidas. Espero que eu não pare. É também por isso que volto, para não me aquietar e nem deixar de me mover.

Viajo com o desejo de preencher as páginas que deixei para trás. Espero voltar. 

Comentários

  1. teu texto é lúcido, embriagante. não deixe de escrever, Manuela

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