Imprensa livre do monopólio
Eis que depois de publicada a entrevista do diretor do La Nación, Bartolomé Mitre, nas páginas amarelas da Veja, os leitores da grande mídia são presenteados com copiosas reproduções do discurso dominante.
Em um deles, Sem jornal grande, estamos fritos, artigo de Sérgio Vaz publicado no site 50 anos de texto e reproduzido em outros blogs e afins, é mais uma tentativa de vociferar a independência dos monopólios midiáticos. Em meio à confissão do medo que ocorra no Brasil o que ocorre em outros países da América Latina, Sérgio Vaz defende os grandes monopólios de mídia do continente e a “independência” da mídia como garantia da democracia.
O curioso é que Vaz não somente circula com intimidade pelos grandes grupos midiáticos, quando chama ao empresário Otávio Frias Filho de ‘Otavinho’, como reproduz a ideologia e defende os interesses que os proprietários dos meios pretendem salvaguardar. Mais adiante, ainda em referência ao diretor editorial da Folha de S. Paulo, Vaz revela que acha estranho um dono de jornal torcer pelo fechamento de outro, em referência à afirmação do diretor da Folha ao dizer que na cidade de São Paulo não cabem dois grandes jornais.
Apesar da sua experiência de redação, Vaz deve recordar que, antes de um espaço de construção da realidade, as grandes corporações de comunicação são grupos econômicos que defendem seus interesses políticos e de mercado. São grupos que querem manter seus monopólios de edição e distribuição, sem restrições. E matam, uns aos outros, por este fim.
Na Argentina, há um primoroso exemplo de como os interesses econômicos estão acima da construção editorial e do direito à informação. Exemplo, aliás, oposto à declaração de Mitre à revista Veja, quando defende a existência do concorrente Clarín.
Desde 1976, os diários Clarín e La Nación controlam a Papel Prensa, empresa argentina que fabrica e fornece papel para 170 jornais argentinos, abastecendo 75% do mercado. Os dois grupos detém 71,5% das ações, sendo 49% do Clarín e 22,5% do La Nación.
Durante oito anos, de 2001 a 2009, Alberto Jorge Mitre (La Nación) y Jorge Carlos Rendo (Clarín) ocuparam os cargos de diretores da Papel Prensa, com o claro propósito de controlar a atividade societária. Também neste período, junto a outros 16 pequenos diários, detinham 80% da composição acionária da agência DyN, criada em 1982. Em troca do alinhamento editorial da agência, sobretudo nas notícias de política e economia, Clarín e La Nación subsidiavam parte do valor do papel para os 16 diários acionistas. O diário Crônica, na época com tiragem diária de 700 mil exemplares, precisava do fornecimento de 1,5 mil toneladas de papel e passou a receber apenas 300 toneladas. Por não ser acionista do grupo Papel Prensa, o diário pagava 58% a mais pelo insumo e logo a tiragem de 700 mil passou para 70 mil.
É uma pequena demonstração do compromisso dos grupos monopólicos com a liberdade de expressão e com o direito à informação. O que a gente vê por aqui não é uma imprensa livre, mas uma imprensa cujos proprietários têm liberdade para agir como querem. Uma imprensa sem qualquer tipo de controle e sem qualquer limite à concentração de meios, onde as políticas de democratização e de regulamentação são debatidas como cerceamento à liberdade de imprensa. Com esse discurso manipulam a opinião pública, defendem seu poder econômico e limitam o acesso à informação.
O que de fato assusta é pensar que pode não acontecer no Brasil.
(*) Artigo publicado no Observatório da Imprensa, edição de 13 de novembro.
Em um deles, Sem jornal grande, estamos fritos, artigo de Sérgio Vaz publicado no site 50 anos de texto e reproduzido em outros blogs e afins, é mais uma tentativa de vociferar a independência dos monopólios midiáticos. Em meio à confissão do medo que ocorra no Brasil o que ocorre em outros países da América Latina, Sérgio Vaz defende os grandes monopólios de mídia do continente e a “independência” da mídia como garantia da democracia.
O curioso é que Vaz não somente circula com intimidade pelos grandes grupos midiáticos, quando chama ao empresário Otávio Frias Filho de ‘Otavinho’, como reproduz a ideologia e defende os interesses que os proprietários dos meios pretendem salvaguardar. Mais adiante, ainda em referência ao diretor editorial da Folha de S. Paulo, Vaz revela que acha estranho um dono de jornal torcer pelo fechamento de outro, em referência à afirmação do diretor da Folha ao dizer que na cidade de São Paulo não cabem dois grandes jornais.
Apesar da sua experiência de redação, Vaz deve recordar que, antes de um espaço de construção da realidade, as grandes corporações de comunicação são grupos econômicos que defendem seus interesses políticos e de mercado. São grupos que querem manter seus monopólios de edição e distribuição, sem restrições. E matam, uns aos outros, por este fim.
Na Argentina, há um primoroso exemplo de como os interesses econômicos estão acima da construção editorial e do direito à informação. Exemplo, aliás, oposto à declaração de Mitre à revista Veja, quando defende a existência do concorrente Clarín.
Desde 1976, os diários Clarín e La Nación controlam a Papel Prensa, empresa argentina que fabrica e fornece papel para 170 jornais argentinos, abastecendo 75% do mercado. Os dois grupos detém 71,5% das ações, sendo 49% do Clarín e 22,5% do La Nación.
Durante oito anos, de 2001 a 2009, Alberto Jorge Mitre (La Nación) y Jorge Carlos Rendo (Clarín) ocuparam os cargos de diretores da Papel Prensa, com o claro propósito de controlar a atividade societária. Também neste período, junto a outros 16 pequenos diários, detinham 80% da composição acionária da agência DyN, criada em 1982. Em troca do alinhamento editorial da agência, sobretudo nas notícias de política e economia, Clarín e La Nación subsidiavam parte do valor do papel para os 16 diários acionistas. O diário Crônica, na época com tiragem diária de 700 mil exemplares, precisava do fornecimento de 1,5 mil toneladas de papel e passou a receber apenas 300 toneladas. Por não ser acionista do grupo Papel Prensa, o diário pagava 58% a mais pelo insumo e logo a tiragem de 700 mil passou para 70 mil.
É uma pequena demonstração do compromisso dos grupos monopólicos com a liberdade de expressão e com o direito à informação. O que a gente vê por aqui não é uma imprensa livre, mas uma imprensa cujos proprietários têm liberdade para agir como querem. Uma imprensa sem qualquer tipo de controle e sem qualquer limite à concentração de meios, onde as políticas de democratização e de regulamentação são debatidas como cerceamento à liberdade de imprensa. Com esse discurso manipulam a opinião pública, defendem seu poder econômico e limitam o acesso à informação.
O que de fato assusta é pensar que pode não acontecer no Brasil.
(*) Artigo publicado no Observatório da Imprensa, edição de 13 de novembro.
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